
O que queremos dizer quando afirmamos: abramos caminhos de esperança? Particularmente, se analiso a especificidade das palavras poderia ser conduzido a pensar imediatamente que existe alguma coisa fechada e que esta “coisa” é um caminho, provavelmente ainda não percorrido. Mas o caminho tem uma especificidade: é de esperança. E sobre esta palavra capaz de invocar sentimentos, abstrações, movimentos e ideias, me recordo das palavras do Papa Francisco (2024. p.1) quando afirma que “todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã.” Acredito que cada um de nós tem em seu coração a imagem de uma porta que é capaz de abrir, que sabe que pode abri-la e dar o primeiro passo em direção a esta esperança.
A respeito de caminhos de esperança, encontramos no documento de promulgação do XXIV Capítulo Geral (CG) dos Josefinos de Murialdo a seguinte frase: “grande parte do documento é dedicado aos jovens, particularmente os pobres, os invisíveis, os excluídos, os marginalizados, aqueles que sofrem com a falta de trabalho, aqueles que não têm acesso a uma educação digna e de qualidade” (2024, p.149). A função do documento não é dar receitas do que fazer, mas apresentar motivações que podem ajudar os que foram, de alguma maneira, tocados pelo carisma a abrir novos caminhos.
Ao ler o documento me recordo dos dias vividos em atmosfera capitular e me lembro que havia diversas motivações que guiavam as ideias de muitos capitulares. No entanto, o pensamento a respeito dos jovens pobres era uma espécie de motivação comum que motivava a maioria de nós, reunidos na Cidade do México, entre os meses de maio e junho de 2024. Mas nem tudo eram rosas; existiram tensões fortes que, em alguns momentos, nos levaram a questionar a esperança que estávamos buscando. Nada de novo sob o sol, uma vez que conflitos existem onde existem seres humanos. Ao final do capítulo, cansados de todo o trabalho realizado, muitos de nós conseguimos reconhecer a graça que permeava aquele espaço e, hoje, ao ver o trabalho que fizemos, é que compreendo que o CG é guiado por uma força que existe dentro de nós, mas não é nossa, é do Espírito de Deus. Pensamento que carrego porque, ao final, conseguimos criar comunhão e só o Espírito de Deus cria comunhão entre os homens.
Pensando em comunhão é belo recordar os momentos em que estávamos reunidos em comissões a fim de elaborarmos o documento final e discutir alguns pontos delicados que o CG precisava tratar em assembleia. Me lembro bem que a divisão das comissões – escolha dos membros, guiada pelo presidente do capítulo, Pe. Mario Aldegani, ocorreu de uma forma muito livre. Cada capitular podia se inscrever na comissão que se sentisse mais preparado para trabalhar e para contribuir com reflexões, que em seguida seriam discutidas na assembleia geral. O trabalho realizado em comissão tinha mais fluidez. No entanto, os grandes temas eram discutidos em assembleia, onde a tensão era sempre maior e solicitava de todos uma abertura de coração para procurar compreender as perspectivas do outro, a coragem para falar o que era necessário e a caridade que deveria perpassar tanto na escuta quanto na fala de cada um.
Além de pensar a Congregação de uma forma abrangente e produzir o documento que, ao final, seja capaz de motivar àqueles que o leem a acreditar que existem novas perspectivas para o trabalho que fazemos, um ponto-chave e importantíssimo do CG é a eleição do novo Superior Geral e de seu conselho. A eles a congregação entrega o poder e a responsabilidade de animar e governar a instituição pelos próximos seis anos. É comum, ao viver processos de eleição, buscarmos líderes que, de alguma forma, sejam uma espécie de manifestação visível do nosso desejo de futuro ou de uma parte dele. Um desejo um tanto comum no momento da eleição do atual superior geral era àquele de comunhão e de relação, ou seja, os capitulares entenderam que, neste momento histórico da congregação, era importante ter alguém que fosse capaz de animar os confrades e a família de Murialdo na direção da fraternidade. Assim, foi eleito o Pe. Nadir e o seu conselho: eles foram escolhidos, primeiramente, para que fosse um conselho que formasse uma comunidade onde a fraternidade vivida seria mais importante que o ofício a ser desenvolvido.
Após a eleição do conselho geral, o capítulo se dedicou de forma particular à programação da Congregação para o próximo sexênio, manifestada no documento final e na aprovação ou não de moções de mudança da Regra. Fiz uma alusão, no início do texto, que o documento final tem como proposta animar àqueles que o leem a exprimir a esperança que possuem no coração de realizar o próprio desejo em prol do carisma que desenvolvemos e, assim, poderia definir a motivação do texto de forma geral. Existem detalhes que merecem ser abordados e aqui cito apenas alguns. O documento se baseia em quatro pontos fundamentais para a Congregação e à FdM: Jovens, Vida consagrada e FdM, Formação e Governo da Congregação.
Em cada ponto buscamos responder algumas questões importantes que a congregação, através das províncias e de seus respectivos documentos, levou ao CG. Em relação aos jovens escolhemos uma forma, entre tantas, para estar-lhes próximos: a escuta. Para que esta escuta seja generativa, o capítulo chegou ao ponto de impulsionar os confrades e leigos envolvidos, onde é necessário, a realizar uma flexibilidade nas estruturas que temos, e que são tantas, a fim de responder às necessidades dos jovens que se apresentam a nós¹. Em relação à vida consagrada e à FdM o documento ressalta a importância da profecia no mundo em que vivemos, profecia que se manifesta no anúncio do amor de Deus às pessoas², na comunhão de vocações com a FdM³, na criação de comunidades integradas⁴ e, sobretudo, na fraternidade vivida dia após dia, a fim de tornar-se cada vez mais humanos conforme o Espírito nos inspira⁵. Relativo à Formação, o capítulo acolheu em muitos momentos as questões e motivações levadas pelos jovens formandos através do documento apresentado por estes. O CG reconhece a importância de realizar uma forte promoção vocacional em toda a Congregação que seja capaz de incentivar jovens e adultos a fazerem a experiência de encontrar um sentido para a própria existência na Congregação ou da Família de Murialdo⁶. Outro ponto importante na formação é o da internacionalidade que foi colocado como fundamento para uma nova compreensão da finalidade formativa: se formam confrades para a Congregação e não somente para as províncias⁷.
Por fim, relativo ao governo da Congregação, é possível encontrar um impulso à sinodalidade, ou seja, a uma forma de governo que anime e decida juntos. São muitos os impulsos que o CG, por meio do documento final, concedeu à congregação. Apesar disto, ainda não nos apresentamos totalmente preparados para repensar nossas estruturas. Faltou um diálogo mais maduro a respeito da reorganização da congregação, algo que provavelmente será amadurecido neste sexênio.
Podemos concluir trazendo novamente a esperança ao discurso. É possível encontrar no documento muitas portas para abrir caminhos de esperança. Poderia dizer que o convite que a congregação faz hoje a nós é o de abrir caminhos que alimentem desejos e expectativas do bem, sem se preocupar tanto com os resultados que será possível colher através destes caminhos, mas simplesmente abri-los. É algo que todos podemos realizar: nem todos da mesma forma, mas todos de alguma forma, com alguma intuição, com uma boa vontade. Acredito que existem muitas motivações dentro de nós e, muitas delas, são inspiradas pelo Espírito de Deus que habita em nosso coração. É preciso coragem para deixar o Espírito agir e nos conduzir. O horizonte são os jovens. A eles abramos novos caminhos de esperança, por eles nos deixamos guiar pelo Espírito.
¹ C.f n. 27 do documento final. A flexibilidade das estruturas passa por um discernimento comunitário. Isto significa que os confrades encontram juntos e não individualmente o melhor caminho para responder às necessidades dos jovens, sobretudo os mais pobres.
² n. 39
³ n. 46, 78
⁴ n. 49, 77
⁵ n. 63
⁶ n. 83
⁷ n. 92,100
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